RAFEIRO, RAÇA URBANA

RAFEIRO, RAÇA URBANA

CANÍDEOS

  Tupam Editores

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Sobre os cães e as suas múltiplas raças muito se pode dizer e já muito se disse: que são o nosso melhor amigo, os companheiros mais fiéis, que ajudam no desenvolvimento de crianças e deficientes, que sentem as nossas maleitas e entristecem connosco, que morrem de saudades ou se tornam heróis ao salvarem vidas.

Cada raça tem características e peculiaridades que nos surpreendem, encantam e fazem com que os queiramos junto de nós. O mesmo não acontece com tanta frequência entre os animais sem raça definida (SRD), ainda hoje alvo de algum preconceito, que é preciso aniquilar.

Porém, segundo o conceito atual, as raças existem apenas desde o século XIX. Anteriormente já existiam cães de aspeto e tamanho diferentes, sendo no entanto mais valorizado o aproveitamento prático do animal do que o seu aspeto estético. O aspeto só começou a ser mais valorizado, depois da primeira exposição mundial canina (que teve lugar em Inglaterra em 1859), e a partir daí terem começado a aparecer os primeiros clubes de criação de cães.

São estes clubes que determinam o padrão das raças. Para ser reconhecida, uma raça nova precisa de percorrer um longo caminho, e os criadores têm de satisfazer algumas condições ao longo de várias gerações. Isso leva a que algumas das raças criadas pelo homem servem mais para satisfazer objetivos estéticos do que funcionais, o que acaba por fazer com que certas raças sofram de malformações ou possuam características físicas exageradas que lhes provocam sofrimento.

Nos cruzamentos entre raças os extremos atenuam-se, o que significa que um animal SRD poderá ser um cão mais equilibrado. Pode dizer-se que cada raça é uma mistura e que em cada cão rafeiro, mestiço, ou vira-lata, como é denominado em alguns países, está um cão de uma qualquer raça.

Mas o que é na realidade um cão rafeiro? À partida esta parece ser uma pergunta de resposta fácil. Pode definir-se um cão rafeiro como sendo o produto de uma ligação entre dois cães de raças distintas ou que apresentem características físicas de diversas raças ou nenhuma em particular. Sendo assim, alguns especialistas costumam descrever o rafeiro como um fruto do acaso.

Brincalhões, tímidos, energéticos, barulhentos, mimalhos, grandes, médios e pequenos... Há de tudo e para todos os gostos! Ao contrário dos cães de raça, os cães SRD são submetidos a condições ambientais e à Lei de Darwin, que seleciona o melhor processo reprodutivo e de adaptação.

O rafeiro sempre existiu. É impossível datar o momento em que o primeiro cruzamento entre dois cães de raças diferentes não foi bem aceite pelo homem e foi descartado na rua, mas sempre estiveram presentes.

A maioria destes cães é negligenciada pelo homem, vivendo nas ruas justamente por não terem características de uma raça específica e muito menos a garantia de um porte.

Curiosamente são os animais SRD que continuam a evoluir, ao passo que nos seus parentes com pedigree, o esforço do homem está direcionado para que não haja evolução, e para que as suas características e imutabilidade sejam mantidas.

Características e temperamento do rafeiro

Nos cães SRD não existe uma padronização das características físicas (morfológicas) ou comportamentais mas estes são muito apreciados pela sua rusticidade, versatilidade e resistência. Ou seja, do ponto de vista biológico, quanto mais variado o património genético, mais fortes e saudáveis são os animais.

No caso dos rafeiros existe uma grande possibilidade das características desfavoráveis serem dominadas por genes que "transmitem" as boas características. Existe grande probabilidade do cão rafeiro ser forte, flexível no comportamento e ter uma forte capacidade de adaptação. Isto explica-se pelo facto de que quando existem cruzamentos se dá uma espécie de revitalização do sangue, que tem um efeito positivo pois evita o cruzamento consanguíneo.

Se, por um lado, o cruzamento de raças acarreta maior resistência física, por outro retira a previsibilidade da aparência física e temperamento, sendo mais difícil prever o comportamento e crescimento ao longo das suas vidas, por exemplo. Existem com diversos portes (pequeno, médio ou grande) e podem apresentar combinações estranhas como cabeça pequena para um corpo grande, orelhas grandes demais, patas desproporcionais em relação ao tronco, entre outras.

Tal como o tamanho, o seu peso é extremamente incerto. A pelagem pode ser lisa ou crespa, longa ou curta e pode apresentar todas as cores em diversas misturas, podendo ter apenas uma cor sólida ou ser malhada.

São animais fortes e resistentes que não possuem predisposição para doenças adquiridas ou crónicas, o que não significa que não necessitem de idas ao veterinário ou ter as vacinas em dia, pois precisam de cuidados como todos os outros cães. De certa forma, as idas ao veterinário são ainda mais importantes pois não existe forma de prever que tipo de doença pode afetar a vida de um rafeiro.

Convém ter em mente que numa única ninhada, uma cadela rafeira pode ter até mais de oito crias, e que esses animais podem ser filhotes de pais diferentes. E mesmo sendo filhos da mesma mãe, não há garantias de que os problemas de um cão sejam os mesmos que os que podem surgir na vida dos seus irmãos. Assim, males como o da displasia coxofemoral – que surge, na grande maioria dos casos, de forma hereditária – devem ser considerados nos rafeiros maiores, já que não há como prever a probabilidade de esta aparecer ao longo da vida do animal.

Por não ter uma origem definida, o cão rafeiro pode sofrer com problemas inesperados ao longo da vida. Em função disso, os cuidados que devem ser tomados com um cachorro SRD devem ser os básicos que se aplicam a todos os animais, como a vacinação e vermifugação anuais, banhos periódicos, escovação da pelagem (em períodos que variam de acordo com o comprimento e a quantidade de pelagem), escovação de dentes diária, passeios frequentes, tosas higiénicas e corte de unhas periódicas, entre outros.

Quanto à expetativa de vida, é muito variavel. Quando em casa de famílias responsáveis podem viver até aos vinte anos. Já os que vivem na rua, na sua maioria atingem o máximo 5 anos de idade, pois têm de lidar com falta de comida, pessoas mal intencionadas, automobilistas que não repeitam os animais e falta de abrigo nos dias de intempérie. Os que são vítimas destas condições são, na sua maioria, animais medrosos e algo agressivos mas, geralmente, os rafeiros são extremamente carinhosos, fiéis ao dono, obedientes e algumas vezes até ciumentos.

O rafeiro é um animal que pode viver em casas ou apartamentos, onde precisa de espaço, limpeza e conforto, mas nunca deve ser privado de passear, ver a movimentação das ruas e cheirar postes e arbustos. Aliás, nenhum cão deve ser privado dessas condições.

Os passeios diários e as atividades para gasto de energia são essenciais e obrigatórios para qualquer cão, seja qual for a raça, Os rafeiros adoram aprender truques e regras – que fazem com facilidade devido à sua notável inteligência – e obedecer ao seu dono, sendo ótimas companhias em casa, para caminhadas e bons momentos no jardim.

O treino

A ideia de que os cães SRD não podem ser treinados é contraposta cada vez que um rafeiro participa numa prova de Agility ou é utilizado em missões de busca e salvamento. Ser rafeiro não significa ter capacidades diminuídas, é apenas sinónimo de personalidade única.

Um rafeiro é um cão surpresa, que tanto pode ser alto ou baixo, extrovertido ou tímido. A dificuldade em treinar um rafeiro não está nas suas capacidades, mas sim na imprevisibilidade do seu temperamento. Treinar um cão rafeiro não é o mesmo que treinar um cão de raça, uma vez que não existe um plano que à partida se aplique a todos os rafeiros. Assim, o treino de um cão rafeiro deve ser mais geral e ajustado à resposta do animal.

Enquanto os donos de cães de raça sabem que aquela forma específica de treino resulta com o seu cão, essa garantia nunca pode ser dada no caso dos rafeiros. Neste caso não existe raça, mas sim temperamento. É o temperamento de cada animal que vai determinar que estilo de treino deve ser seguido. Só com o seu crescimento se pode optar por uma forma específica de treinar.

Tal como para os cães de raça, existe sempre a base do treino, ou seja, os comandos essenciais, que devem ser ministrados de início. Senta, Deita, Junto (ao andar de trela), Fica, entre outros, são comandos essenciais para o treino do animal.

No início as sessões de treino devem ser curtas. Geralmente o primeiro comando a ser ensinado é Senta. Este comando deve ser repetido várias vezes e recompensar o animal sempre que se sentar. Se o cão aprender depressa e se sentar sempre que o solicitar, então é porque o treino está a ter sucesso, devendo manter-se esse treino com os outros comandos.

Se o cão aprender o comando, mas se mostrar renitente em repeti-lo, deve aumentar o número de sessões de treino mas reduzir a sua duração. Não se esqueça de o recompensar de cada vez que cumprir o comando. Alguns cães são por natureza teimosos e esta característica é impossível de alterar. Deve ter-se, sobretudo, paciência e manter o treino. A insistência é a chave, repetindo de forma calma os comandos, sem alterações de voz e sem recorrer a castigos físicos.

Se o animal não se mostrar minimamente interessado no treino e se distrair com facilidade, deve começar a pensar em situações de treino originais. Se o cão for ativo e brincalhão, utilize o lançamento do disco, pau ou brinquedo para o ensinar a sentar. Lance o objeto apenas depois de o cão se sentar. Desta forma pode ensinar também o comando Busca. Se for comilão, antes de pousar o prato da comida, obrigue-o a sentar-se. Se o cão for distraído, pode colocar vários objetos escondidos e pedir-lhe para os procurar. Com isto pode treinar o comando Fica, Senta, e Busca.

Com o crescimento e convívio com o rafeiro, o dono consegue aperceber-se das coisas que o motivam e quais as que o aborrecem, assim como quais os comportamentos mais evidenciados pelo cão que devem ser corrigidos.

Um rafeiro tanto pode ser amigável e barulhento, como pouco sociável e tímido. O dono deve aproveitar ao máximo tudo o que incentiva o seu cão e controlar os instintos menos desejáveis. Se os donos de cães de raça têm a tarefa algo facilitada, pois já conhecem as características do cão e treino aconselhado, os donos dos rafeiros têm a oportunidade de educar um cão com uma personalidade surpresa, mas única.

O treino é fundamental para qualquer tipo de cão, seja SRD ou de raça. Além disso, é uma excelente forma para criar vínculos fortes com o animal e para melhorar a comunicação entre ambos.

Porém, é importante ter em mente que nenhum treino resulta sem uma boa dose de brincadeira entre sessões.

Não se deve exigir demasiado dos cães, sobretudo enquanto são pequenos, mas também não se deve ser demasiado permissivo. Há que estabelecer limites e manter expetativas realistas. E sobretudo, não desistir!

Para além da ideia de que os rafeiros não podem ser treinados existe outro preconceito – a adoção. Mas se uns consideram a adoção um risco demasiado elevado, outros valorizam o facto de poderem salvar uma vida.

A adoção: vantagens e desvantagens

Os cães rafeiros já fazem parte do dia-a-dia de muitas pessoas e dividem espaço de igual para igual com os cães com pedigree. Nos canis, contudo, estão em maioria e esperam por um dono para serem adotados e ganharem uma casa definitiva.

E se no passado eram alvo de muito preconceito, hoje são considerados os melhores cães para se ter em casa, por várias razões.

Para começar, o baixo custo de aquisição. Os cães sem raça definida são geralmente adotados sem custos, ou então somente são pedidos aos donos os custos com saúde e alimentação, custos da vacinação, que são geralmente muito mais baixos do que o valor pedido por cães de raça.

Um rafeiro é único e dificilmente se confunde com outros cães. Para quem não quer ter o cão da moda ou o cão igual ao do vizinho, o rafeiro é a melhor opção. Um "sem-raça" nunca será igual a outro, e isso torna-os independentes e únicos. O tamanho, a cor e o temperamento variam de cão para cão, o que significa que cada dono de um rafeiro terá um exemplar só seu em casa.

A sua genética de ferro é outra das vantagens. Por não resultarem de cruzamentos de cães aparentados ou da mesma raça, alguns problemas genéticos não têm tanta incidência nos rafeiros como nos cães de raça. Isto não quer dizer, contudo, que os rafeiros sejam mais saudáveis do que os cães com pedigree, mas os animais que estiveram mais expostos à seleção natural (viver na rua) são geralmente mais resistentes.

Por outro lado, os animais que viveram na rua estavam mais expostos a doenças e geralmente necessitam de cuidados veterinários assim que são recolhidos. Na maioria dos casos, esses cuidados ficam a cargo das associações, famílias ou entidades de acolhimento. Assim, ao adotar um cão certifique-se de que este se encontra bem de saúde.

Estes animais são extremamente fieis. Os rafeiros costumam ter um instinto de fidelidade grande, devido a já terem vivido nas ruas e passado por dias difíceis, razão pela qual o nível de amor, carinho e companheirismo tendem a ser bem maiores nestes cães. Os donos de rafeiros também costumam ser muito apegados a estes porque sentem desde o início da adoção uma ligação muito especial com eles.

O sentimento de ter salvado um cão que estava abandonado na rua, ou até que sofria maus tratos, é único e cria laços indestrutíveis.

Se bem que, ao adotar um cão adulto esteja também a adotar a bagagem emocional que o cão traz, é contudo possível, com paciência e treino, resolver a grande maioria dos problemas comportamentais que os cães dos canis trazem. Em alternativa, pode evitar este problema adotando cães jovens.

Nesse caso a desvantagem é a imprevisibilidade. Ao adotar um rafeiro enquanto jovem apenas tem uma vaga ideia de como o cão irá evoluir em adulto. Se o tipo de porte e pêlo podem ser previstos com algum grau de certeza conhecidos os progenitores, já o comportamento é mais incerto.

Adotar é salvar a vida de um cão. Para quem adota animais este sentimento pode ser muito gratificante. E não é preciso dizer muito mais.

Afinal todos os donos de rafeiros sabem que ter classe não tem nada a ver com a raça!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
24 de Setembro de 2024

Referências Externas:

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