A descoberta da estrutura da molécula em forma de dupla hélice (sais de ácido desoxirribonucleico, vulgo ADN), é hoje considerada uma das mais importantes descobertas do século XX, se não a mais significativa, não obstante o seu diminuto impacto na época.
Desvendada pelos investigadores Francis Crick e James Watson e discretamente anunciada na revista Nature em abril de 1953, através da frase "Esta estrutura tem características novas que são de interesse biológico considerável", tornou-se provavelmente num dos eufemismos mais famosos da ciência.
No artigo científico onde James Watson e Francis Crick apresentam a estrutura do ADN de hélice, depreende-se que a molécula é responsável pelo transporte da informação genética de uma geração para a outra. Nove anos depois, em 1962, pela descoberta da estrutura do ADN, repartiram o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina com Maurice Wilkins, para solucionar um dos mais importantes enigmas biológicos.
Cerca de sessenta anos após o evento, a compreensão do papel do ARN (ácido ribonucleico) como molécula intermediária entre o ADN e as restantes estruturas da célula tem sido matéria de estudo durante todos estes anos, e continua ainda a surpreender os cientistas. Há mesmo quem acredite que a vida teve origem com o ARN, uma molécula capaz de se copiar a si própria.
Decorridos mais de 60 anos, novas e importantes implicações desta contribuição para a ciência continuam a ser anunciadas tendo esta dupla hélice do ADN assumido um papel cada vez mais importante na sociedade.
Os mecanismos da hereditariedade estão por detrás dos avanços mais fantásticos e das polémicas mais aguerridas de hoje, desde os organismos geneticamente modificados à clonagem. Além disso, o ADN tornou-se um ícone da cultura popular tendo sido, com certeza, a molécula mais mediática de sempre.
Manipulação de células de animais
Manipulação é o ato de controlar direta ou indiretamente um objeto, animal ou pessoa para atuar de determinada forma de acordo com a vontade do agente manipulador. Com a evolução da genética surgiram novas áreas de trabalho, como a manipulação genética.
O processo de manipulação dos genes em determinado organismo é designado por engenharia genética e modificação genética e envolvem geralmente o isolamento, manipulação e introdução de DNA num denominado "corpo de prova". Tem como objetivo a introdução de novas características num ser vivo, com vista a incrementar a sua utilidade, "alargar" a área de uma espécie de cultivo, introduzindo uma nova característica, ou produzindo uma nova proteína ou enzima.
A opinião pública, muito influenciada pelos meios de comunicação social, encara a modificação genética como uma ameaça ao futuro dos seres vivos. Contudo, para os que trabalham em ciências biológicas, não é mais que uma ferramenta crucial que visa exponenciar a aquisição de conhecimentos com o objetivo de salvar vidas humanas.
Porém, numa sociedade em que os direitos dos animais são cada vez mais acautelados, os investigadores são frequentemente confrontados com dúvidas de ordem ética. Deverá o bem-estar animal ser ignorado em benefício do ser humano? Quais os limites éticos a estabelecer?
Questiona-se a introdução de novos organismos geneticamente modificados em ambientes abertos, uma vez que se desconhece as suas consequências a longo prazo para os outros seres vivos, nomeadamente da mesma espécie.
A redução da biodiversidade que as técnicas de melhoria e seleção de espécies está a provocar na natureza, tendo nós um conhecimento ainda muito limitado dos mecanismos biológicos é atualmente muito questionada, principalmente pelos grupos com preocupações ecológicas, em grande expansão por todo o mundo.
O sofrimento, para além dos limites do razoável, a que os animais são submetidos durante as experiências tendo apenas como objetivo a sua sobre-exploração, são questões também evocadas.
Domesticação animal
O mais importante fator de desenvolvimento da história humana nos últimos 13 000 anos foi seguramente a domesticação de plantas e animais. A maior parte dos alimentos hoje disponíveis deve-se ao progresso registado ao longo dos últimos milhares de anos, pré-requisito para a ascensão da civilização que transformou a demografia global.
A domesticação animal tem sido, ao longo dos tempos, a mais importante e frequente causa de mudanças dos genes humanos. Entre os mecanismos responsáveis pela transformação, contam-se a propagação de genes humanos das terras agrícolas, a evolução dos fatores genéticos de resistência às doenças infeciosas, a lactase devido ao consumo persistente de leite pelas multidões migrantes do norte da Europa e várias partes da África, evolução de isoenzimas e alterações do metabolismo pelo álcool, devido ao licenciamento de grandes quantidades de cerveja, nutricionalmente importante na Eurásia ocidental e evolução devida às adaptações a uma dieta mais rica em hidratos de carbono simples, gorduras saturadas e mais recentemente, calorias e sal, baixos teores em fibras, carboidratos complexos, gorduras e cálcio insaturados, que a dieta dos nossos antepassados caçadores-recoletores.
Há muito que os laboratórios de investigação em todo o mundo manipulam as células de animais, modificando desta forma as suas características genéticas, criando também novos seres. Os defensores destas práticas afirmam que os métodos são novos mas a realidade é antiga. A mula, por exemplo, é o resultado do cruzamento entre o cavalo e a burra.
A engenharia genética
O termo vulgarmente utilizado para descrever algumas técnicas modernas em biologia molecular que vieram revolucionar o anterior processo da biotecnologia é designada por engenharia genética.
É constituída por um conjunto de técnicas capazes de permitir a identificação, manipulação e reprodução de genes em organismos vivos e, embora sendo uma ciência recente, tem possibilitado a realização de experiências na área da genética, com resultados surpreendentes sobre a vida.
Consiste na utilização de tecnologias que permitem alterar o genoma de organismos, inserindo um ou mais genes no DNA, ou silenciando a expressão de um gene já existente. O objetivo da engenharia genética é adicionar ou retirar características de seres vivos para benefício do homem.
Supercoelhos capazes de produzir medicamentos, suínos geneticamente modificados, cabras de cujo leite se produz seda e salmão que cresce ao dobro da velocidade (salmão AquaAdvantage), são alguns dos cruzamentos de espécies a que os investigadores, dos EUA à China se dedicam, esperando somente por autorização para as colocar no mercado.
Cruzamentos genéticos realizados entre suínos e ratos, com um gene adicional retirado de bactérias deram origem a um "novo" suíno. Este animal transgénico foi criado por investigadores da Universidade de Guelph, no Canadá.
Denominado Enviropig®, o "porco ecológico" expele menos 30 a 70 por cento de fósforo nos excrementos. Isto deve-se à introdução no seu DNA de um gene procedente da conhecida bactéria Escherichia coli para produzir uma enzima na saliva chamada fitase, cuja função é romper as moléculas próprias dos grãos, e dos vegetais que contêm fósforo.
Isto tornou possível ao animal digerir de forma melhorada o fósforo do milho ou da soja de que se alimenta. Segundo os investigadores esta modificação a nível dos cromossomas transmite-se de forma estável ao longo de oito gerações.
Em termos científicos, a engenharia genética não conhece grandes limites, conhecendo-os sim a nível psicológico e ético. Apesar de hoje em dia se realizar em grande escala, a manipulação genética não deixa de provocar grande inquietação, implicando fatores/valores como: consequências imprevisíveis, integridade biológica, redução da biodiversidade, novas formas de domínio, e sofrimento.
Técnicas e aplicações
As técnicas utilizadas incluem a seleção de um gene de um organismo X, o seu isolamento e manipulação, a sua reintrodução no genoma de um organismo Y e finalmente a expressão desse gene na produção de uma nova proteína e consequentemente de uma nova característica no organismo Y, geneticamente modificado.
A modificação genética de bactérias é um dos exemplos mais conhecidos e consiste na introdução de um gene que permite que essas bactérias produzam insulina humana, uma hormona usada no controlo e tratamento da diabetes.
Os organismos geneticamente modificados (OGM) são as aplicações mais conhecidas da engenharia genética. Graças a esta tecnologia, é possível a produção de medicamentos como a insulina e a utilização de células-tronco em pesquisas para tratamento de doenças degenerativas.
A importância das células tronco deriva de seu potencial para se transformar em qualquer célula ou tecido de um organismo, o que é especialmente promissor para o tratamento de doenças degenerativas.
A sua capacidade para se dividir e transformar em qualquer outro tipo de célula, são um verdadeiro tesouro do organismo, estando já a ser utilizadas no tratamento de diversas doenças como a leucemia, através do transplante de medula óssea.
Vantagens e desvantagens da manipulação genética
A divergência de opiniões torna o tema "manipulação genética" num conflito social em que o desejo de evolução científica choca com alguns pensamentos éticos.
Um dos avanços mais significativos da engenharia genética atual são os animais transgénicos – poderosas ferramentas de pesquisa para a descoberta e o desenvolvimento de novos tratamentos para várias doenças humanas.
Cada vez mais frequente e bem sucedida, a manipulação deve-se a um longo período de avanços e descobertas na área da genética, durante o qual foram sendo aplicadas técnicas sucessivamente mais eficazes. A sua aplicação em várias áreas, e com objetivos variados, tem permitido a melhoria da qualidade de vida humana.
Alguns cientistas, contudo, são de opinião que a manipulação do genoma de animais apresenta sérios riscos para a saúde humana devido ao desconhecimento das consequências a longo prazo da introdução de organismos geneticamente modificados em ambientes abertos; reações alérgicas provocadas pelo consumo de carne, leite e ovos provenientes de organismos geneticamente modificados; redução da biodiversidade devido à aplicação de técnicas de melhoria e seleção de animais.
De entre as vantagens da manipulação genética destacam-se a clonagem de gado mais produtivo; conservação de espécies em vias de extinção através do armazenamento de sémen congelado ou de embriões; clonagem de animais extintos; produção de fármacos (insulina, hormona de crescimento e fator de coagulação), que podem ser obtidos do leite de vacas, cabras ou ovelhas transgénicas; aumento dos animais modificados com características específicas, possibilitando a obtenção de melhores exemplares para teste em tratamentos de doenças humanas; ajuda no entendimento nos mecanismos de proliferação e diferenciação celulares; produção de proteínas com interesse terapêutico e industrial; redução do número de animais utilizados em experiências laboratoriais; possibilidade da utilização de animais menores, geneticamente modificados, em substituição de espécies geneticamente mais próximas do homem; e a realização de xenotransplante – o polémico transplante de órgãos de animais no ser humano –, uma técnica ainda pouco desenvolvida, e com um longo caminho a percorrer no mundo da investigação científica.
Os problemas maiores são de origem clínica: rejeição por parte do hospedeiro dos orgãos ou tecidos do doador, que neste caso será um animal; aparecimento de doenças de origem não humana, em que o surgimento de vírus letais poderá ser catastrófico; de origem ética: se por um lado há quem veja o xenotransplante como meio para prolongar a vida e melhorar a qualidade da mesma, por outro há quem pense que o homem não tem qualquer direito de utilizar os animais em seu próprio benefício. Coloca-se também o problema do tipo de animal usado e do uso de espécies em vias de extinção; de origem económica pois, como técnica em desenvolvimento, implica grandes investimentos.
Outra questão a considerar é a falta de informação ao público em geral, relativamente a possíveis preconceitos ou medos. Existe por isso uma grande responsabilidade dos investigadores, dos media e de todos aqueles que são responsáveis por informar a sociedade, de dar a conhecer corretamente a situação.
Na verdade, o homem tende muitas vezes a privilegiar determinadas características incompatíveis com a seleção feita pela natureza. Este facto pode vir a colocar em causa a sobrevivência dos indivíduos, precisamente o oposto do que os cientistas pretendiam quando enveredaram pela manipulação genética. Assim, todos os cuidados são poucos!
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