Novo exame de sangue pode melhorar diagnóstico de concussão
Uma concussão, também conhecida como lesão cerebral traumática leve, é uma alteração da função mental ou do nível de consciência, causada por um traumatismo craniano. Com base nas características da lesão aguda e nos sinais e sintomas de apresentação, o seu diagnóstico é difícil.
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Recentemente, um estudo liderado pela Universidade Monash, na Austrália, descobriu proteínas ou biomarcadores específicos que podem ajudar a diagnosticar concussões de forma relativamente rápida e precisa através de um exame de sangue global.
Uma vez aprovado, um exame de sangue que identifica esses biomarcadores poderia melhorar o processo de diagnóstico das concussões após acidentes, colisões desportivas ou outras lesões, auxiliando na gestão e na recuperação dos pacientes. Em vez de substituir as medidas de diagnóstico existentes, como sinais físicos e autorrelato de sintomas, este exame seria utilizado em conjunto, para maior precisão.
Atualmente não existe nenhum exame de sangue aprovado globalmente para a concussão. Embora uma tomografia computadorizada possa ser usada para detetar hemorragia cerebral após uma concussão, a maioria das concussões não resulta em hemorragia.
O novo estudo, publicado na revista Neurology, analisou quatro biomarcadores proteicos. Os investigadores da Universidade Monash e do Alfred Emergency Department (ED), em conjunto, descobriram que os níveis sanguíneos de três proteínas, cada uma refletindo diferentes aspetos da biologia do trauma cerebral, foram precisas na classificação da concussão em pacientes com menos de 50 anos que se apresentaram no ED no prazo de seis horas após a lesão.
Quando o biomarcador inflamatório interleucina 6, ou IL-6, foi medido juntamente com a proteína ácida fibrilar glial (GFAP) e a hidrolase de ubiquitina do terminal-C L1 (UCH-L1) – duas proteínas exclusivas do cérebro –, essa combinação mostrou incrível sensibilidade e especificidade para distinguir indivíduos com concussão daqueles sem o problema.
Segundo o Dr. Stuart McDonald, líder do estudo, o diagnóstico de concussão é desafiador em muitos casos porque os médicos se baseiam em observações subjetivas de sinais físicos e sintomas relatados pelos próprios pacientes, nenhum dos quais é específico da concussão e muitas vezes têm evolução rápida. Por essa razão, mesmo nas emergências, os indivíduos podem receber alta sem um diagnóstico definitivo.
As descobertas mostraram que o painel de biomarcadores que foi avaliado teve um desempenho muito bom, mesmo em pacientes que não apresentavam sinais mais evidentes de concussão, como perda de consciência ou amnésia traumática pós-concussão.
Se outras investigações validassem esses resultados e os biomarcadores obtivessem aprovação regulatória na Austrália, poder-se-ia aumentar a certeza do diagnóstico não apenas para os médicos, mas também para os pacientes, o que permitiria um tratamento mais precoce.
Nas emergências, o teste poderia ser útil para dar certezas em casos difíceis de avaliar, especialmente quando um paciente não quer ou é incapaz de comunicar os seus sintomas. Um exemplo poderia ser em casos de violência doméstica, onde o teste poderia revelar uma lesão cerebral leve que, de outra forma, poderia passar despercebida.
O teste teria ainda grande potencial para ajudar a controlar as concussões desportivas, que com um diagnóstico mais definitivo ajudariam na recuperação do jogador e no seu retorno à atividade.
Este projeto identificou ainda outro biomarcador que poderia ajudar no diagnóstico muito mais tarde, após uma concussão. Nos mesmos pacientes estudados uma semana após a concussão, os investigadores descobriram que outro biomarcador específico do cérebro, a luz do neurofilamento (NfL), estava elevado no sangue e tinha propriedades diagnósticas comparáveis às dos marcadores agudos. Para o Dr. McDonald isso sugere que o NfL pode ser particularmente adequado para ajudar no diagnóstico de concussão em casos de avaliações tardias.
Além do ED, os valores de NfL no sangue podem ser mais benéficos quando os indivíduos consultam um médico de família vários dias após um impacto, especialmente em situações em que a certeza do diagnóstico é crucial para tomar decisões seguras de retorno ao trabalho ou ao lazer, como no caso de ambientes militares ou desportivos.