Toma de antibióticos durante gravidez associada a asma infantil
Cerca de 4% das crianças de sete anos na Noruega têm asma. Embora o uso de antibióticos durante a gravidez tenha sido associado à asma em crianças, não está claro se são os antibióticos, ou as infeções, a causa principal.
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Uma equipa de investigadores do Instituto Norueguês de Saúde Pública e da Universidade de Oulu, na Finlândia, decidiu distinguir o efeito dos antibióticos das infeções durante a gravidez na asma infantil.
Para isso, analisaram dados de duas coortes de base populacional, incluindo 53.417 crianças no Estudo de Coorte Mãe, Pai e Filho Norueguês (MoBa) e 541.036 crianças no Registo Médico de Nascimento na Noruega. As informações sobre infeções durante a gravidez estavam disponíveis na coorte MoBa, mas não na coorte baseada no Registo.
Os especialistas verificaram que em ambas as coortes o uso materno de antibióticos durante a gravidez foi associado à asma aos sete anos de idade. Na coorte MoBa os filhos de mães que tomaram dois ou mais antibióticos durante a gravidez tiveram um risco 54% maior de asma aos sete anos de idade em comparação com os filhos de mães que não tomaram antibióticos, no entanto, não se encontrou essa tendência na coorte baseada no Registo.
Constatou-se ainda que o risco de asma era maior se as mães tinham tomado antibióticos em estágios posteriores da gravidez (17 semanas ou mais) na coorte MoBa, mas não na coorte baseada no Registo.
Segundo a Dra Aino Rantala, principal autora do estudo, na coorte MoBa a associação era dose-dependente, o que significa que quanto mais antibióticos se tomava, maior o risco. Esse risco também parece aumentar com o uso de antibióticos mais tarde na gravidez, e isto porque no final da gravidez o uso de antibióticos tem maior influência na microbiota do bebé, que é importante no desenvolvimento do sistema imunológico.
A associação entre o uso materno de antibióticos e a asma infantil diminuiu quando os investigadores controlaram as infeções maternas durante a gravidez, o que quer dizer que as infeções maternas durante a gravidez também desempenham um papel no risco de asma.
Na coorte MoBa, os filhos de mães que tiveram duas ou mais infeções do trato respiratório apresentaram um risco 14% maior de asma aos sete anos do que os filhos de mães sem essas infeções. Curiosamente, na MoBa, os filhos de mães que tiveram infeções do trato respiratório inferior durante a gravidez, mas que não usaram antibióticos, apresentaram maior risco de asma, em comparação com os filhos de mães que usaram antibióticos para infeções específicas.
Como as infeções não tratadas durante a gravidez podem representar um risco ainda maior de asma em crianças, do que simplesmente tomar antibióticos, é aconselhável tomar antibióticos prescritos que sejam eficazes para infeções específicas. No entanto, como o uso de dois ou mais antibióticos durante a gravidez também aumenta o risco de asma, não se aconselha a toma de antibióticos apenas por precaução. Por outras palavras, as mulheres grávidas devem usar antibióticos, mas apenas quando necessário.
Os resultados de ambas as coortes diferiram um pouco, o que pode dever-se às diferenças entre as duas coortes populacionais. As descobertas relatadas aqui foram controladas para inúmeras exposições que poderiam ter tido efeito, incluindo a idade materna, tabagismo durante a gravidez e o tipo de parto, mas também pode haver outros fatores envolvidos que os investigadores não controlaram, como a genética ou mesmo outras exposições ambientais.