Medicamento experimental para tumor cerebral avançou nos ensaios
Um medicamento experimental que está a ser testado para tumores sólidos avançados, incluindo o tumor cerebral mais agressivo – o glioblastoma –, passou a primeira fase com distinção, o que aumenta as esperanças de um novo tratamento eficaz.
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A avançar para a segunda fase de testes está o medicamento Auceliciclib. Para o efeito o Professor Shudong Wang da Universidade da Austrália do Sul (UniSA) e a empresa de biotecnologia Aucentra Therapeutics, de Adelaide, estão a recrutar até 50 pacientes com glioblastoma.
Da primeira fase, que teve início em junho de 2021, fizeram parte pacientes com glioblastoma, assim como cancro cervical, do cólon, gastrointestinal, pancreático e uterino, de forma a garantir que o Auceliciclib era seguro em diferentes dosagens. Na segunda etapa será testada a eficácia da substância contra tumores sólidos.
Segundo Wang a fase um geralmente estende-se até dois anos, se houver alguma preocupação com a segurança de um novo medicamento, mas neste caso não se verificou nenhum problema com o Auceliciclib, o que é muito encorajador.
A segunda fase, em combinação com o medicamento quimioterápico Temozolomide, será focada em pacientes com glioblastoma, cuja expetativa de vida é muito limitada, com sobrevida de apenas 12 a 18 meses após o diagnóstico.
Apesar da cirurgia, quimioterapia e radioterapia, o glioblastoma é um cancro incurável. Uma das razões deve-se ao diagnóstico tardio, nessa altura o tumor já se espalhou de uma forma que torna a remoção cirúrgica muito difícil.
Além disso, existem muito poucas substâncias que podem atravessar a barreira hematoencefálica. O cérebro faz um excelente trabalho ao proteger o seu órgão mais vital de toxinas e patógenos – a desvantagem é que também impede a entrada de medicamentos vitais.
Mas o Auceliciclib demonstrou em modelos pré-clínicos que pode atravessar a barreira hematoencefálica, o que o torna um candidato a medicamento ideal para o cancro do cérebro.
Em todo o mundo, cerca de 300.000 pessoas foram diagnosticadas com um tumor cerebral primário em 2020, com muito pouca esperança de um tratamento eficaz.
O Auceliciclib tem duas vantagens principais sobre outros medicamentos em desenvolvimento. É mais específico para um alvo, atingindo as células cancerígenas no cérebro de forma mais eficaz, e é menos tóxico.
Se a substância for bem sucedida no ensaio clínico, também será um avanço importante para os tumores cerebrais metastizados de outros cancros, incluindo o da mama e do pulmão.
Segundo o Professor Wang, o progresso é limitado pelo financiamento. Embora a Aucentra Therapeutics tenha desempenhado um papel fundamental no levantamento do capital necessário para realizar os ensaios clínicos, é necessário muito mais apoio. Estão a ser realizados ensaios clínicos em Adelaide, Sydney e Melbourne. Dependendo do financiamento, a equipa de investigadores espera expandir os locais de teste para todas as capitais da Austrália.
Está ainda em andamento um estudo separado com o Auceliciclib como monoterapia para pacientes com uma variedade de cancros em estágio avançado, incluindo cancro da mama, pulmão, ovário e colorretal.