Leucemia: descoberta nova forma de atacar o cancro
Investigadores liderados pelo Instituto Francis Crick descobriram como atingir as células estaminais afetadas pela leucemia sem causar danos às células estaminais saudáveis, abrindo caminho para novos e mais seguros tratamentos para a doença.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
CANCRO, INVESTIGAÇÃO E NOVAS TERAPIAS
A ciência avançou prodigiosamente na luta contra o cancro, mas o mundo natural tem sido o arsenal mais eficaz da medicina, fornecendo desde antibióticos a potentes fármacos. LER MAIS
Mais de 3000 pessoas são diagnosticadas anualmente com leucemia mieloide aguda (LMA) no Reino Unido, incluindo 100 crianças. Após o diagnóstico, pessoas com marcadores genéticos adversos têm apenas 15,3% de hipóteses de sobreviver por mais de cinco anos.
Apesar de as investigações aumentarem a compreensão sobre a doença, as terapias convencionais para as leucemias agudas, incluindo a LMA, permanecem praticamente inalteradas há muitos anos. Geralmente, envolvem tratamentos como quimioterapia e transplantes de células estaminais, que podem desencadear efeitos colaterais graves.
No estudo, publicado na revista Science Translational Medicine, os especialistas investigaram o papel da proteína CKS1, em células estaminais da leucemia. Essas células são capazes de se auto-renovar e muitas vezes são a causa da recidiva da doença após o tratamento.
Ao examinarem células estaminais da leucemia e outras células de LMA retiradas de pacientes com a doença, a equipa descobriu que as células estaminais cancerígenas têm as maiores concentrações dessa proteína.
Quando bloquearam a CKS1 em ratinhos com enxertos de células cancerígenas humanas, os investigadores observaram uma redução no número de células estaminais com leucemia, o que sugere que essa proteína é vital para as suas capacidades de autorrenovação. Convém realçar que isso não prejudicou as células estaminais saudáveis e ainda protegeu essas células de alguns dos efeitos colaterais da quimioterapia. Protegeu, por exemplo, as células estaminais no intestino, que muitas vezes são prejudicadas durante a quimioterapia, podendo levar à infeção no intestino.
Outros estudos revelaram que esses efeitos opostos em células estaminais com leucemia e células saudáveis se devem à forma como a inibição de CKS1 desencadeou o acúmulo de uma molécula prejudicial, ROS, nas células estaminais cancerígenas, mas não nas células estaminais saudáveis.
Esta investigação utilizou amostras retiradas de pacientes e as experiências ocorreram em laboratório, em células e em modelos de ratinhos. Muitos outros estudos e ensaios clínicos serão necessários antes que as descobertas possam resultar numa mudança na forma como as pessoas com leucemia são tratadas.
Os cientistas vão continuar este trabalho, explorando a possibilidade de iniciar um ensaio clínico e também tentando melhorar ainda mais este método para atingir as células estaminais com leucemia.