AR: células estaminais do tecido adiposo melhoram dor e inchaço
Os cerca de 70 milhões de doentes que sofrem de artrite reumatoide (AR) em todo o mundo vislumbram uma luz ao fundo do túnel. Um novo tratamento experimental demonstrou eficácia e perfil de segurança favorável, podendo vir a tornar-se uma alternativa às terapêuticas atuais.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
ARTRITES - Viver sem dores articulares
Confundida por vezes com artrose, não é, contudo, uma doença crónica mas sim, uma inflamação nas articulações independentemente da sua causa, possível de prevenir e tratar. LER MAIS
Um ensaio clínico realizado nos Estados Unidos da América descobriu que os
sintomas de AR, como a dor e o inchaço nas articulações, melhoram significativamente após aplicação de células estaminais mesenquimais do tecido adiposo, ou seja, gordura. Segundo os investigadores, os resultados observados ficam a dever-se ao efeito anti-inflamatório destas células.
A AR é uma doença crónica de natureza autoimune, que afeta 1% da população mundial, em que as células do próprio sistema imunitário passam a atacar as articulações, causando inflamação, inchaço, dor, rigidez, e perda progressiva de mobilidade e qualidade de vida.
Embora não haja cura para a doença, é possível aliviar a sintomatologia com corticosteroides ou medicamentos antirreumáticos e imunossupressores mas um uso prolongado pode resultar em perda de eficácia, deixando os doentes com opções terapêuticas mais limitadas. Em alguns casos, estes medicamentos desencadeiam ainda efeitos adversos, incluindo disfunção renal e hepática.
Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, explica que com o objetivo de melhorar a qualidade de vida destes doentes têm vindo a ser testadas outras modalidades de tratamento inovadoras com base na administração de células estaminais, pela sua capacidade de libertação de moléculas anti-inflamatórias e de modulação do sistema imunitário. E os resultados deste ensaio clínico revelam-se muito promissores.
Participaram no ensaio, que decorreu entre 2018 e 2020, 15 doentes, a maioria mulheres, com 52 anos de idade, em média, e que apresentavam AR ativa apesar do regime terapêutico prescrito. Cada doente foi tratado com uma única infusão intravenosa de células estaminais do seu próprio tecido adiposo, obtidas a partir de uma pequena porção de gordura e depois multiplicadas em laboratório.
Ao longo de um ano os participantes foram avaliados em momentos distintos através de análises laboratoriais e testes específicos para avaliar os sintomas da doença.
Por não se terem registado efeitos adversos severos decorrentes do tratamento experimental, os investigadores consideram que apresenta um perfil de segurança favorável. Já em relação à eficácia, observou-se uma melhoria acentuada nos sintomas articulares ao longo do período de acompanhamento.
Foi utilizado um teste de contagem articular de 66/68 articulações, em que é identificado o número de articulações inchadas e dolorosas em todo o corpo. Enquanto o número médio de articulações inchadas baixou de 12 no início do estudo, para 1, ao fim das 52 semanas, o número de articulações dolorosas diminuiu de 20 para 1, em média, o que indica uma resposta muito positiva ao tratamento com células estaminais.
Tendo em conta os resultados positivos, os investigadores consideram importante a realização de ensaios clínicos de maior dimensão, que possam confirmar o benefício da administração de células estaminais do tecido adiposo como forma inovadora de tratamento dos sintomas da AR.