Eficácia de antibióticos diminui na presença de várias bactérias
São necessárias doses mais elevadas de antibióticos para eliminar uma infeção bacteriana quando outros micróbios estão presentes, apurou um estudo realizado por investigadores da Universidade de Cambridge. O facto ajuda a explicar a razão pela qual as infeções respiratórias muitas vezes persistem em pessoas com doenças pulmonares como a fibrose quística, apesar do tratamento.
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ANTIBIÓTICOS, USAR COM MODERAÇÃO
A resolução do problema da resistência bacteriana deve começar por cada um de nós. Preservar, para manter a eficácia destes "medicamentos milagrosos", é uma responsabilidade de todos. LER MAIS
As infeções bacterianas crónicas, como as das vias respiratórias, são muito difíceis de curar utilizando antibióticos. Embora estes tipos de infeção estejam frequentemente associados a uma única espécie patogénica, o local da infeção é frequentemente co-colonizado por outros micróbios.
No estudo, publicado recentemente no The ISME Journal, os investigadores referem que mesmo um nível baixo de um tipo de micróbio nas vias aéreas pode ter um efeito profundo na maneira como outros micróbios respondem aos antibióticos.
Os resultados destacam a necessidade de considerar a interação entre diferentes espécies de micróbios ao tratar infeções com antibióticos, e ajustar a dosagem de acordo.
Segundo os investigadores, as opções de tratamento focam-se normalmente num patógeno e têm pouco em conta as espécies coabitantes, não sendo muito eficazes no combate a infeções.
No estudo foi desenvolvido um modelo simplificado das vias respiratórias humanas, contendo expetoração artificial, concebida para se assemelhar quimicamente à expetoração real expelida durante uma infeção. O modelo permitiu cultivar uma mistura de vários micróbios de uma forma estável durante semanas.
Foram utilizadas bactérias Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus, e o fungo Candida albicans, uma combinação presente nas vias respiratórias de pessoas com fibrose quística.
Os investigadores trataram esta mistura microbiana com um antibiótico chamado colistina, que é eficaz contra a Pseudomonas aeruginosa. No entanto, quando os outros agentes patogénicos estavam presentes, o antibiótico não funcionou.
O efeito foi o mesmo quando a mistura microbiana foi tratada com ácido fusídico, um antibiótico que visa a Staphylococcus aureus, e com fluconazole, um antibiótico que visa a Candida albicans.
Os investigadores concluíram que eram necessárias doses significativamente mais elevadas de cada antibiótico para matar bactérias inseridas num ambiente polimicrobiano.
As infeções polimicrobianas são comuns nas vias aéreas de pessoas com fibrose quística. Apesar do tratamento com doses fortes de antibióticos, essas infeções geralmente persistem a longo prazo.
As infeções crónicas das vias aéreas em pessoas com asma e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) também são frequentemente polimicrobianas.
Atualmente, os antibióticos por norma são testados apenas em laboratório contra o principal patógeno ao qual se destinam para determinar a dose eficaz mais baixa. Mas quando a mesma dose é usada para tratar infeções numa pessoa muitas vezes não funciona, e este estudo ajuda a explicar a razão.
O novo sistema modelo permitirá que a eficácia de novos antibióticos em potencial seja testada contra uma mistura de espécies de micróbios.